Síndrome de Down e a aprendizagem

Síndrome de Down é a forma mais freqüente de retardo mental e é entendida como uma alteração genética que prejudica o funcional adequado das funções neurológicas, que são alteradas em suas funções básicas. É normalmente acompanhada de complicações clínicas que acabam por interferir no desenvolvimento global da criança portadora, e consequentemente em sua aprendizagem. Algumas das principais deficiências que acometem a síndrome e implicam dificuldades ao desenvolvimento são: alterações auditivas e visuais; dificuldades na organização de atos cognitivos e condutas; debilidades na associação e programação de seqüências; e alterações nos conceitos de tempo e espaço.

No entanto, existe um consenso na comunidade científica de que a adequada educação e estímulo proporcionados a estes indivíduos são significativos para a melhora de seu desenvolvimento e potencial, podendo as generalizações e limitações quanto à capacidade de aprendizagem ser minimizadas. Este artigo visa apresentar algumas destas possibilidades e recursos que poderão contribuir significativamente para um melhor desenvolvimento educacional dos portadores da síndrome de Down.

Inicialmente, um dos cuidados primordiais que se deve ter é em relação à interação e comunicação com estas crianças. Assim, a fala sempre que possível, deve estar apoiada em sinais e símbolos gráficos, pois a utilização interligada de imagens e gestos na comunicação pode contribuir consideravelmente para a melhor compreensão por parte do aprendiz. Além disso, é importante que às crianças portadoras da síndrome seja oferecida a oportunidade de expressar de alguma forma, que realmente compreenderam aquilo que foi dito, antes que novas informações sejam transmitidas.

É recomendável também que o educador procure constantemente rememorar com a criança aquilo que já foi aprendido, quando novos conhecimentos serão apresentados. Isto porque uma característica marcante resultante da síndrome é o processamento mais lento das informações por parte do indivíduo, podendo resultar em dificuldades quando um novo conhecimento exija organização programada e nova seqüência de atos.

O atendimento por parte do profissional deve desta forma, ocorrer de forma gradual no sentido de proporcionar uma experiência de aprendizado efetiva. Isto porque, quando uma nova informação é bem assimilada, dificilmente uma criança Down esquece o que aprendeu, fator este que compensa o processo muitas vezes lento, da aprendizagem. Dentre as pessoas com deficiência mental, as com síndrome de Down, de forma geral, apresentam mais habilidades que as demais para executar atividades que já sejam de seu repertório, e este fator deve ser sempre lembrado pelos educadores que poderão se utilizar de conhecimentos já adquiridos para atingir novos objetivos.

A aprendizagem deve estar centrada também, sempre que possível, em materiais concretos que permitam ser manuseados pela criança. Para tal, podem ser utilizados suportes de ensino como: ábaco; quadros numerados; cartões com quantidade/numeral em relevo; números e letras de plástico; computador; e outros. Os usos de materiais lúdicos, da mesma forma, permitem um desenvolvimento global da criança, através da estimulação de diferentes áreas.

O educador deve ter como objetivo, preparar a criança para a alfabetização, que iniciará posteriormente quando a criança for capaz de descrever objetos e ações; discriminar sons; identificar semelhanças e diferenças entre sons iniciais e finais das palavras; identificar símbolos gráficos; articular fonemas corretamente; estabelecer relações simples entre objetos; combinar conceitos nas áreas de relações temporo-espaciais; participar de atividades lúdicas; seguir e dar instruções simples; estabelecer relações passadas e prever ações futuras; demonstrar criatividade e estabelecer pensamento crítico.

Além da busca pelo desenvolvimento de habilidades de leitura, escrita e operações matemáticas por parte do educador com seus alunos Down, este deve procurar sempre relacioná-los com a realidade da criança, preparando-a assim para uma adequada participação na sociedade. O objetivo é que este atinja dentro de seus limites, grau máximo de independência, utilizando-se funcionalmente da leitura; autonomia para se utilizar de meios de transporte para se locomover; adequado manuseio de dinheiro; e dentre outras, o aprendizado para tomar decisões, fazer escolhas e assumir a responsabilidade por estas. Consequentemente, o desenvolvimento da linguagem e atividades de leitura e escrita serão mais bem desenvolvidas a partir das experiências vivenciadas por estas crianças no seu cotidiano.

A possibilidade de esta criança responder melhor à aprendizagem, e participar do seu processo de construção do conhecimento, estará sempre condicionada ao que o meio pode lhe oferecer. O apoio a uma criança portadora da síndrome de Down requer além de preparo intelectual, paciência e dedicação por parte do educador, para reconhecer não somente suas dificuldades e limitações, mas principalmente suas habilidades e potenciais. Assim, o trabalho de intervenção deve estar direcionado aos seus talentos e capacidades, de forma que favoreça o real conhecimento de suas possibilidades. Quanto mais for oferecido um ambiente solicitador, que promova autonomia e diferentes possibilidades de descobertas de seu potencial, melhor será o seu desenvolvimento como um todo.

Deborah Ramos | Psicopedagoga e Psicanalista Infantil

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